domingo, 2 de junho de 2013

Livros sobre matemática popularizam "Cinderela das ciências"

Matéria: CASSIANO ELEK MACHADO (São Paulo)
Fonte: Folha de São Paulo


Há um ano e meio, Ricardo Arashiro conseguiu comprovar uma equação tão certeira quanto o fato de que a soma do quadrado dos catetos é igual ao quadrado da hipotenusa. Bastava colocar na prateleira o livro "Alex no País dos Números", do inglês Alex Bellos, que o volume era vendido no mesmo dia.



Funcionário da Livraria Cultura da avenida Paulista, Arashiro já vinha notando havia algum tempo que: livro sobre matemática bem escrito, voltado especialmente ao conjunto de não matemáticos é igual a interesse do público.
Neste começo de outubro, ele terá a grande oportunidade para confirmar o seu axioma. Estão chegando às livrarias três exemplos bem acabados de que raízes quadradas, logaritmos, números primos e até pi podem não ser bonitos, mas estão na moda.
"História da Matemática", de Tatiana Roque, "Obsessão Prima", de John Derbyshire, e"Aventuras Matemáticas", de Ian Stewart, seguem, cada um a seu modo, uma trilha aberta por livros como "O Último Teorema de Fermat", de Simon Singh, "O Andar do Bêbado", de Leonard Mlodinow, e "Alex no País dos Números". Fundamentadas em questões da matemática, estas três obras andaram pelas listas de mais vendidos no Brasil.
Embora tenham em comum o comprometimento com a chamada "divulgação matemática", os três novos lançamentos têm características e objetivos diferentes.

ACONTECIMENTO
Fruto de seis anos de pesquisas, o livro de Tatiana Roque vem sendo recebido nos bastidores matemáticos como um acontecimento.
Na semana do lançamento do livro, o professor Claudio Possani, do Instituto de Matemática e Estatística da USP, divulgou por e-mail a todos seus colegas de departamento uma resenha que começava com "Por que estou contente?" e concluía: "O livro é rigoroso e atual. Recomendo".
Com mais de 500 páginas, o projeto da professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro narra o desenvolvimento dessa ciência desde a Mesopotâmia e o Antigo Egito até a invenção da matemática pura no século 19.
Mais do que contar a história da matemática, a professora procurou fazê-lo de maneira crítica a outras obras semelhantes, como deixa claro já na capa do volume: "Uma visão crítica, desfazendo mitos e lendas". "Enumero mitos para mostrar que contribuíram para formar uma imagem prejudicial da matemática", diz a professora à Folha.
É contra este mesmo tipo de "preconceitos" que o britânico Ian Stewart vem trabalhando, e trabalhando um bocado, há quase 50 anos. Aos 67 anos, o autor do recém-lançado "Aventuras Matemáticas" já publicou 80 livros de divulgação desta que chama de a "Cinderela das ciências": "Desvalorizada, subestimada e incompreendida".
Em seu novo trabalho, Stewart segue sua tradição de discutir temas como números primos (queridinhos da bibliografia contemporânea), análise combinatória e probabilidades por meio de historietas e enigmas lógicos.
Stewart já chegou a precisos 97 mil livros vendidos no Brasil, de acordo com sua editora, a Zahar, que também lançou a obra de Tatiana Roque e outra (quase) infindável lista de títulos na área.
Neta de Jorge Zahar, fundador da editora, a diretora-executiva Mariana Zahar salienta a experiência da casa neste ramo: "Meu avô lançou um livro de popularização da matemática chamado 'Um, Dois, Três... Infinito', de George Gamow, em 1962. Estamos há meio século nisso".
Há quarenta anos publicando obras como "O Homem que Calculava", de Malba Tahan, o best-seller por excelência da matemática brasileira, a editora Record também segue firme no gênero.
Além de continuar com os livros que o matemático carioca Julio Cesar de Mello e Souza (1895-1974) produziu com o pseudônimo arabesco, conjunto que se aproxima de 1 milhão de exemplares vendidos, a Record tem sido pródiga em lançamentos sobre grandes enigmas, como a obra de Singh sobre o teorema de Fermat.
Este mês, a editora publica "Obsessão Prima", do controverso jornalista e escritor inglês John Derbyshire, que discorre sobre um dos maiores problemas irresolutos da matemática, a chamada Hipótese Riemann.
Como quem investiga um crime, Derbyshire explica como é o problema formulado há mais de 150 anos pelo matemático alemão Bernhard Riemann (1826-1866) e tenta elucidar por que ninguém consegue resolvê-lo.
Aos leitores da obra interessados em problemas matemáticos, vale um recado.Um instituto americano, o Clay Institute, anunciou em 2000 que dará US$ 1 milhão a quem resolver o problema.



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